sexta-feira, 29 de junho de 2012

O amor é estrábico











O dia que não vou esquecer,
por mais anos que tenha de vida,
foi quando me fez sofrer
uma mulher de nome Margarida.
Estava à janela 
quando Margarida passou com uma blusa amarela.
Ela olhava e sorria, tão cândida e bela, 
eu de lágrimas nos olhos, 
nas mãos lenços aos molhos, 
reparei que ela passava e ponderava a chamar, 
dando por mim a pensar:
“Que raio…o que tem esta mulher que para mim não pára de olhar?”
O que será que ela quer?
Porque estou eu a chorar?
Fica lhe bem aquela cor cristalina, acho que a vou cumprimentar:
“Boa tarde menina, bons olhos que a vejam passar, 
mas mais bonitos são esses olhos que para mim não param de olhar”.
Mas aquilo soou a cinismo, mais tarde viria a saber, 
Margarida sofria de estrabismo e não era a mim que estava a ver.
Estaria eu apaixonado pela mulher do olhar reverso?
Como saber? Fácil.
Só num estado tão alterado, começaria a pensar em verso.
Foi então que cai em mim e pensei: “ A estupidez tem de ter um fim”
 e disse lhe com convicção, sem rimas e sem ser em verso forçado:
- Merda…acho que por ti estou apaixonado.
Foram 2 anos sempre a amar,
ela só não tinha olhos para mim,
o que tendo em conta seu problema ocular,
era prenúncio de um grande fim.
Mas pouco a pouco tudo mudou
e quando estavam homens à solta,
ela que nunca olhava para mim olhou
e eu, por isso, mandei-a dar uma volta.
Ai…Se o arrependimento matasse,
arrependido já teria morrido,
como ia adivinhar o desenlace…
O estrabismo ela tinha corrigido.

Crónica semanal inserida na rubrica “A minha vida dava uma crónica” no Maisopinião.