No que concerne à utilidade da escola nas nossas vidas as opiniões dividem-se entre quem entende que “a escola é essencial “ e os que proclamam que “a iscola é dispençável”.
Associada à segunda corrente doutrinal há ainda os que defendem que a “escola é dispensável” por saberem utilizar adequadamente o corrector ortográfico do word. É aqui que orgulhosamente me incluo.
Escreveu António Gedeão que ” …o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”. Por alguma razão não diz o poeta que o mundo progride como um livro de física quântica aplicada nas mãos de um petiz. E não o diz porquê? Em primeiro lugar porque não rima e tratando-se de um poema às vezes é importante que isso aconteça. Em segundo lugar porque o que faz avançar a humanidade é a acção, a iniciativa, a criatividade e a individualidade, variantes que não se compadecem com horas e horas a ouvir matéria a ser debitada.
Foi na escola que aprendi o certo e o errado, mas foi fora dela que aprendi o que realmente interessa: Fazer as coisas erradas com muito estilo (espero que isto nunca seja lido por um inspector das finanças. Cá por coisas…).
Se o ensino fosse uma coisa boa e consensual, não existiria a escolaridade obrigatória. Todos gostamos de bifes com batatas fritas pelo que não tem de existir a refeição obrigatória, assim como não existe o período de sexo com duas suecas obrigatório para os homens. Só se obriga o que é chato, como é o caso de colocar o cinto de segurança, usar um capacete nas obras ou, claro está, ir à escola.
Quando era mais novo achava que a minha professora era soberana. Era melhor professora do mundo a quem devíamos todo o respeito e consideração. Já fora da escola percebi, depois de ver a professora de Música de Mirandela que posou para a playboy, que a minha docente afinal não era assim tão boa e estava bem longe de ser a melhor.
Por falar em música, alguém me explica porque tive horas e horas, durante anos, Educação Visual e Educação Musical se logo na primeira aula ficou demonstrado que não sei desenhar um Fá nem sei tocar compasso? Não teria sido mais proveitoso dedicar esse tempo a desenvolver uma certa aptidão que sempre demonstrei, por exemplo, para a renda de bilros?
A escola ensinou-me o essencial mas infelizmente achou essencial ensinar-me carradas de coisas supérfluas.
A escola ensinou-me o essencial mas infelizmente achou essencial ensinar-me carradas de coisas supérfluas.
Dizemos aos nossos filhos que têm de estudar se querem ser alguém na vida mas depois eles afirmam que quem querem ser na vida não estudou quase nada e mesmo assim ganha milhões e joga no Real Madrid. Lembramos os inexperientes garotos que ele é um caso excepcional e que o futebol não é tudo. Incutimos neles a importância de ler e de viver em constante aprendizagem. Só serão reconhecidos se estudarem muito porque a vida está muito difícil. É então que eles retorquiam que Saramago, que foi um dos dois Portugueses que maior reconhecimento internacional recebeu, deixou de estudar aos 12 anos para aprender o estritamente necessário para ser serralheiro mecânico. Tentamos demonstrar que esta formação poderá ter sido essencial para escrever a Jangada de Pedra mas somos desarmados com a observação “Cá para mim ele não continuou na escola para não ter que ler aquela seca do Memorial do Convento”. É então que percebemos a verdadeira utilidade da escola e o mandamos imediatamente para lá. Ou então contamos-lhe a verdade:” Sabes Diniz, não és meu filho e eu não tenho obrigação de te aturar.”.
Só havia uma coisa pior do que ir à escola: Eram os trabalhos para casa, vulgo t.p.c.. Acredito que as siglas tenham sido utilizadas depois de um número elevado de ataques cardíacos que vitimaram alunos ao ouvir a expressão “Trabalho para casa”.Provavelmente saiu um decreto-lei a obrigar os professores a suavizarem o termo. Mas como estava a dizer não havia nada pior que o t.p.c..Na escola pelo menos tínhamos um sofrimento partilhado com muitos meninos, o que amenizava a nossa dor. Agora chegar a casa e de forma solitária, como se fossemos os únicos seres no mundo a passar por aquele calvário, ter de fazer os deveres era muito triste. Lembro-me que a minha professora dizia que éramos uns meninos cheios de sorte: “Não se queixem, vocês tem t.p.c. e eu estou com t.p.m”. E ficávamos mais descansados. Trabalho para meses…credo.
Disse eu um dia que “A escola é um treino para o jogo da vida“.Concordo comigo. Um treino muito básico onde apreendemos e aprendemos o essencial para não sermos cilindrados pelos nossos adversários mas um treino que nem por sombras é suficiente para nos garantir vitórias pois essas serão resultado de tudo aquilo que está no terreno de jogo, que é como quem diz cá fora.
Resumindo, se ainda vão a tempo, esqueçam a escola e tudo o que está associado a ela. Vivam como se tivessem a 4ª classe e serão muito felizes. Essa escolaridade chega e sobra para preencherem os papéis do Centro de Emprego e receberem mais de 400 euros por mês que orgulhosamente vocês esfregarão na cara de quem vos disser ” A escola é essencial”.
(Texto escrito para o blogueoquenaoaprendinaescola.blogspot.com acedendo ao simpático convite que me foi formulado pelo autor.)