Ponto prévio: Apesar de aceder ao simpático convite do Yssencial para escrever um texto sobre a fama, contando um pouco do meu percurso e vantagens/desvantagens que alguma notoriedade me trouxe, eu não sou famoso. Deste modo, pode o excelentíssimo leitor parar de se questionar sobre “quem é este gajo?” ou “em que reality show é que participou?” porque ainda sou menos famoso do que alguns pseudo-famosos do nosso pais. Não é algo que me tire o sono, pelo contrário…como não sou famoso tenho muito menos coisas para fazer, o que me permite dormir mais tempo.É caso para dizer que não sou famoso com muito gosto.
Muitas pessoas conhecem o meu trabalho mas poucas sabem quem sou. Porquê? Porque para se ser conhecido em Portugal é preciso aparecer, seja no youtube, seja na televisão, cenário do qual sempre fugi um pouco.Acho que tenho a melhor fama do mundo, que é a de ser reconhecido e valorizado pela minha família, pelos meus amigos e seguidores, o que faz com que apenas as pessoas que verdadeiramente gostam de mim me reconheçam no “mundo real”. Isto, parecendo que não, é importante quando alguém se dedicou uns meses a enviar e-mails fictícios, com situações absurdas para vários destinatários, alguns deles com muito pouco sentido de humor. Já me reconheceram na rua algumas pessoas que não conheço mas não é uma constante pelo que quando me apercebo que durante o dia está muita gente a olhar para mim, limito-me a olhar para a braguilha e fecha-la.
O que mudou na minha vida após a publicação de um livro por uma conceituada editora e de uma certa exposição mediática que o mesmo originou? Curiosamente a grande diferença passou a ser essencialmente na relação com outras figuras públicas que apenas conhecia dos media. Para mim todas eram iguais. Ao nível de humoristas, apresentadores e actores percebo agora quem é verdadeiramente grande e aqueles que apesar de a maioria julgar que são uns grandes senhores não deixam de ser muitos limitados no seu intelecto e maneira de ser pois apenas olham para o seu umbigo. Confesso que me deu muito gozo de ver a preocupação de alguns destes últimos em não promover minimamente o trabalho de alguém desconhecido como se eu constituísse alguma ameaça. Desses não rezará a minha história. Outros e outras surpreenderam-me pela positiva. Felizmente tratou-se de uma grande maioria.Foi engraçado ver pessoas conhecidas a contactarem-me por sua iniciativa e a abrir portas para eventuais projectos conjuntos.Outras figuras públicas juntaram-se aos fás do meu trabalho e demonstraram admiração e gratidão por umas horas bem passadas demonstrando interesse em me conhecer melhor, o que me deixou obviamente cheio de orgulho e com um sorriso de orelha a orelha. Apesar de parte da memória do meu telemóvel ser agora ocupada por contactos que nunca julguei ter a verdade é que pouco uso faço deles. Se calhar é por ter sempre pouco saldo.
O aspecto positivo que vejo na existência de uma maior notoriedade prende-se com questões motivacionais. Sabendo que existe uma base de trabalho conhecida e reconhecida, sei que há uma expectativa das pessoas, que estão atentas ao que vou fazendo, o que me dá azo e vontade de fazer algo genial. Penso que quem parte para uma aventura que proporcione aparição em jornais, revistas e televisão tem de partir com uma perspectiva de que tudo é efémero porque senão sofrerá uma grande decepção. Os que aguentam anos e anos num patamar elevado contam-se pelos dedos das mãos e perante a conjuntura actual são cada vez menos.
Em Portugal quase que não há famosos: Há pessoas mais e menos conhecidas. Os dois únicos portugueses, activos, que considero famosos, são reconhecidos ambos por causa do futebol e estão em Espanha. Só Mourinho e Ronaldo acredito que movam multidões de inúmeras nacionalidades e que não consigam ter uma vida normal em qualquer pais fora do burgo sem serem incomodados. Outros que por cá andam vivem na ilusão que o facto de serem reconhecidos na rua faz deles pessoas famosas e estrelas galácticas quando todos sabemos bem da diminuta dimensão deste nosso jardim à beira mar plantado. Sou da opinião que em vez de um Fama Show, deveria existir um programa onde algumas pessoas seriam confrontadas com a sua real dimensão antes de dizerem adeus às suas ilusórias convicções de superioridade.Chamar-se-ia, obviamente, Fama Xau.