domingo, 24 de junho de 2012

Tchim tchim



O presidente do Gil Vicente prometeu uma semana com champanhe grátis para os sem-abrigo de Barcelos caso ganhem a Taça da Liga contra o Benfica. Os mendigos devem estar contentes, já tinham perdido a esperança em ter algo para acompanhar as refeições de caviar.


António Fiúza, o apelidado de iluminado presidente do clube de Barcelos, poderia até ser daqueles que pensam que o problema da fome em Africa se resolve com uma investigação séria sobre as causas da falta de apetite nesse Continente mas a realidade é que por vezes tendemos a ver as coisas de um prisma que pode não ser o mais correcto: É fácil criticar uma atitude destas, que parece ser mais condenável do que se Fiúza estivesse a subtrair algo às pessoas de poucas posses, mas será que algum sem-abrigo ficará descontente com esta oferta caso se concretize? 
Será o flagelo do álcool entre os sem-abrigo que preocupa a nossa sociedade ao ponto de qualificar a pessoa em causa como um perfeito anormal? 
Ou será que a promessa peca por um desmedido irrealismo, visto a final ser contra o Benfica e é desumano colocar nas bocas dos mais pobres o amargo sabor de um espumante que dificilmente irão provar?
Será que se a promessa fosse a de uma semana de jantares grátis, num daqueles restaurantes chiquérrimos cujo o prato principal cabe numa colher de sobremesa, a reacção seria idêntica?


Tenho a certeza que sim.Somos hipócritas ao ponto de acharmos que apenas bens de primeira necessidade podem ser atribuídos a pessoas que não têm posses algumas. Concordo que essas pessoas possam até preferir uma pratada de arroz de frango mas será que algum dia voltam a ter a hipótese de ir àquele restaurante? Será que qualquer dia voltam a ter a oportunidade de beber um bom champanhe com fartura?Verdadeiramente descabido seria dar-lhes uma televisão, ou mesmo um boião cheio de gasolina, se bem que mesmo assim eles poderiam vender os produtos em causa e obter uma boa maquia para satisfação das suas necessidades mais básicas.Ou então, surpresa das surpresas, utilizavam o dinheiro para comprar uma garrafa de champanhe e esquecendo-se da vida desgraçada que têm brindariam com dignidade a todas as pessoas que com eles se preocupam. Mesmo, claro está, a todos aqueles que estariam escandalizados por eles não estarem a fazer o brinde com dois copos de água. Tchim Tchim.