terça-feira, 26 de junho de 2012

A última pílula


Quando a minha namorada disse que a nossa relação ia ser a dois fiquei preocupado. Quando ela referiu que era apenas a parte sexual da relação que ia deixar de ser participada por outrem entrei obviamente em pânico. Graças a Deus percebi mal, e ultrapassado o choque inicial entendi que o que ela quis dizer é que não havia mais comparticipação no sexo (e não participação), referindo-se à intenção do governo em acabar com a comparticipação no valor da pílula.



Mesmo com a garantia que as nossas festas a 3 não estão comprometidas estou apreensivo com toda esta situação visto que tenho uma consciência social deveras activa. Ao mítico “hoje não que me dói a cabeça” o homem conseguiu passado muitos anos lograr os seus intentos justificando às respectivas parceiras que estudos comprovavam que o sexo é uma óptima aspirina. Ao divertido “hoje não que o Benfica joga em casa”, respondeu o homem com outra interrogação que as deixava sem resposta: “Joga em casa mas não está a jogar à porta fechada, pois não?”, que para muitas mulheres funcionava melhor do que a alusão ao facto de que “se está a haver jogo então o campo de treinos nas traseiras está livre”.
Agora será o “Não tomei a pílula, estou em contenção de despesas” que entrará na ordem do dia, ou da noite dependendo da hora a que o estimado leitor praticar o coito. Não sei como mas acredito que venceremos outra vez esta batalha porque quando é grande a vontade, enorme é o engenho.
A pílula é dos maiores bens essenciais, se não o maior dos bens essenciais, que está no mercado. A prova disso é que há mais namorados a perguntar às respectivas se tomaram a pílula do que a perguntarem se ela comeu o pãozinho todo, ou bebeu uma caneca de leite de manhã. É inadmissível o aumento do custo dos bens de primeira necessidade.
Por este andar ainda ouviremos muito boa gente a dizer que se ganhasse o Euromilhões o que fazia era amor todos os dias.
Aguentei a diminuição do meu poder de compra sem reclamar, suportei a perda do meu emprego, a subida de impostos e a mudança para uma casa com a renda mais barata sem me manifestar. Passei a deslocar-me a pé devido ao preço da gasolina. Tudo isto por causa das politicas de quem manda cá no burgo. Mas se fazer sexo sem consequências vai passar a ser um luxo e só os ricos o vão poder fazer sem ter uma catrefada de filhos, eu juro que emigro. O Coelho não tem nada que deixar de meter a pata (ou a mão) nas minhas relações sexuais. É uma ajuda importante e Coelho que é Coelho promove a cópula e não causa entraves à sua prática.
Isto, claro está, se ele não quiser que nas próximas eleições a maioria tome a pílula do dia seguinte e neutralize os efeitos desta governação. É que parecendo que não é importante que o povo se vá divertindo e distraindo para não estar demasiado atento às medidas impopulares do governo.
Termino com um provérbio Chinês de um século qualquer que coloco entre aspas para não ser acusado de ordinarices: “Quanto maior o tesão social, maior a tensão social”. Pensem nisso agora que vão ter mais tempo livre.
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